Os pensamentos fazem da minha cabeça um remoinho
Que se lança e balança sugando-se a si próprio,
Na ânsia de alguma resposta encontrar.
Responder a quê? Não o sei. Sozinho
Neste trilho de falsos pastores afundo-me no ócio
Da coragem afogar: para nada ter de voltar a tentar.
2º - Calai-vos!
Odeio-vos a todos!
Odeio o céu e a terra,
Odeio Deus e o Diabo.
Odeio-te a ti: vida que erra
Em cada fôlego que não te finda
E em cada passo que não te encerra.
3º - ___
A chuva banha o caminho
Que rasgo a passos largos,
Na fúria da música que não oiço
E que não me deixa parar.
Da chuva que cai,
Que continua a cair,
E que cairá sem cessar.
4º -
Nada do que quero é,
Nada do que sinto se transcende,
Tudo é vil e desajeitado,
Todo o verso é precário,
E cada palavra um atentado
À beleza que sobejo.
Beleza, essa, que não passa
D’um triste trapo esfarrapado,
Esperando paciente
Pela hora de ser rasgado,
Perdido e esquecido,
Num mundo demasiado remendado.
Num mundo demasiado remendado.